É hora de fugir dos gatilhos da dor de cabeça !!!
Algumas situações do dia a dia são capazes de despertar esse tormento.
Preste atenção: o motivo pode estar onde você menos imagina.
Ah, dor de cabeça, atire o primeiro analgésico quem nunca a experimentou na vida.
É um transtorno tão comum que decidimos pegar emprestado o termo para apelidar qualquer entrave do cotidiano.
E, a exemplo dos perrengues que enfrentamos em casa ou no trabalho, as cefaleias — esse é o seu nome de batismo científico — são também um problema frequente.
Entre 70 e 95% dos seres humanos registrarão pelo menos um episódio em sua biografia.
Um estudo realizado recentemente pela Sociedade Mineira de Cefaleia revela, após entrevistar mais de 900 funcionários de três empresas de Belo Horizonte, que quase 74% deles tiveram dores de cabeça nos últimos 12 meses.
“O impacto é ainda maior sobre as mulheres. Três quartos delas apresentavam dores em níveis moderado e alto”, conta o neurologista Ariovaldo Silva Júnior, presidente da entidade e um dos responsáveis pelo trabalho. “O estresse e as oscilações hormonais podem justificar esses dados”.
Há mais de 150 tipos de dor de cabeça. Cerca de 20% das mulheres e 8% dos homens padecem de enxaqueca e quase 20% da população é vitimada pela dor tensional.
As cefaleias são divididas em primárias e secundárias.
No segundo grupo, estão as deflagradas por gripes, sinusites, aneurismas…
“Entre as primárias, as principais são a enxaqueca e a do tipo tensional”, diz o neurologista Deusvenir de Souza Carvalho, da Universidade Federal de São Paulo.
São elas as versões geralmente desencadeadas pelos fatores que apresentaremos a seguir.
Nem sempre, porém, dá para culpar um chocolate pelo martírio.
“O indivíduo com propensão para o problema crônico sofre muitas vezes de crises independentes de gatilhos”, avisa o neurologista Getúlio Rabello, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Daí por que as dores merecem ser averiguadas com o apoio de um especialista.
1 Estresse
O arqui-inimigo da vida moderna não faltaria a uma reunião dos gatilhos de cefaleia.
Para quem tem enxaqueca ou dor do tipo tensional, algumas horas no trânsito ou a correria do escritório podem ser fatais.
A enxaqueca, cuja crise dura de quatro a 72 horas, se destaca por uma dor pulsante, mais intensa em um lado do crânio e acompanhada por náuseas e sensibilidade a luz e barulho.
Já a do tipo tensional surpreende os dois lados da cabeça, sem apertar tanto e durando de 30 minutos a sete dias.
Ambas têm, provavelmente, origem genética e são provocadas por erros de interpretação das áreas do cérebro que gerenciam a dor.
É como se um estresse físico ou emocional fosse recebido com exagero e, em resposta, detonasse o tormento.
“Na enxaqueca, esse estímulo provoca inflamação e dilatação das artérias da meninge, as membranas que recobrem o cérebro”, explica o neurologista Abouch Krymchantowski, diretor do Centro de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça do Rio de Janeiro.
Somado a alterações bioquímicas, esse fenômeno acorda a dor.
Para escapar do alvoroço na massa cinzenta, busque manejar a tensão diária: em vez do carro, prefira o metrô, medite, brinque com os filhos, dedique-se a um passatempo…
2 Alimentos e temperos
Uma noite de queijos e vinhos pode resultar em uma madrugada com muita dor de cabeça.
Essa dupla é capaz de acionar uma crise em quem já convive com enxaqueca. “Os queijos fornecem substâncias que interferem na química cerebral”, diz Deusvenir Carvalho.
A principal delas é a tiramina, que dá as caras quando as proteínas do alimento são quebradas.
Ela teria a audácia de incrementar a dilatação dos vasos cerebrais, uma das condições que respondem pela dor. Quanto mais velho o queijo for, mais tiramina ele costuma oferecer.
Ninguém está pedindo para abolir o parmesão ou o provolone depois de uma única crise.
“Para culparmos o alimento, ele precisa deflagrar o problema de forma repetitiva”, orienta Getúlio Rabello.
Outros petiscos são famosos por desencadear enxaquecas, como o chocolate, dono de moléculas que promovem alterações químicas no cérebro, além de frios e embutidos, que carregam nitritos e nitratos, substâncias nocivas que estimulam a dilatação dos vasos.
Entre os temperos, cuidado com o molho à base de soja.
“Ele contém glutamato monossódico, que também é vasodilatador”, avisa Marco Antônio Arruda.
A mensagem é ficar de olho no cardápio e, se detectado o alimento- gatilho, maneirar na porção ou manter distância dele. Do contrário, o banquete está liberado.
3 Bebidas
Nós afirmamos que a aliança entre queijos e vinhos pode ser perigosa, certo?
Mas, justiça seja feita, não dá para condenar apenas o derivado do leite.
O vinho tinto também oferece moléculas que, como a tiramina, alargam o calibre dos vasos no cérebro.
Para piorar ainda mais a vida de alguns enxaquecosos, o néctar de Baco é composto de álcool, outro potente vasodilatador — por isso, há quem sofra também bebericando uísque ou cerveja.
“Não é que todo mundo com enxaqueca terá uma crise ao tomar um copo, mas, para alguns predispostos, a dor aparece quando a bebida começa a ser absorvida”, conta Arruda.
Ou seja, o suplício pode iniciar à mesa.
Não confunda essa dor de cabeça com aquela que escolta a ressaca do dia seguinte. “Nesse caso, o desconforto é resultado da desidratação e da quebra do álcool dentro do corpo”, explica o neurologista Eduardo Mutarelli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
4 Abuso de remédios
O tiro saiu pela culatra — talvez seja essa a melhor expressão para definir os riscos de quem se entope de analgésicos com o objetivo de se livrar de dores de cabeça recorrentes.
É claro que, em meio a um episódio esporádico, recorrer a um comprimido pode ser o jeito mais rápido e eficaz de silenciar o desconforto.
Mas quando o problema é habitual… “Quase dois terços das pessoas com cefaleias diárias abusam desse tipo de remédio”, estima Ariovaldo Silva Júnior, que atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
“E exagerar nesses medicamentos só ajuda a torná-las crônicas”, alerta.
É o que chamamos de efeito rebote, porque o cérebro deixa de ser suscetível à droga.
“Além disso, alguns analgésicos são prejudiciais a outros órgãos, como o fígado”, lembra Silva Júnior.
Nessas situações, não se iluda com a automedicação. Visite um neurologista para apurar o problema. Só ele deve prescrever os remédios que previnem ou aplacam as crises.
Fonte: Revista Saúde