O remédio Cordaptive vai ser recolhido nos cerca de 40 países onde era vendido, inclusive no Brasil. Segundo o laboratório, 1.500 brasileiros fazem uso do medicamento.
O remédio Cordaptive, que associa duas substâncias para aumentar o colesterol “bom” (HDL) e reduzir o “ruim” (LDL) e os triglicérides, vai ser recolhido nos cerca de 40 países onde era vendido, inclusive no Brasil.
De acordo com a MSD (Merck), fabricante da droga, a decisão foi tomada após a análise de dados preliminares de um estudo internacional sobre o remédio.
A pesquisa, com mais de 25 mil pessoas, mostrou que o Cordaptive não reduz o risco cardíaco e, ainda, aumenta a chance de efeitos colaterais não fatais, mas que não foram detalhados pela empresa.
No Brasil, segundo o laboratório, 1.500 pessoas usam o medicamento. Recomenda-se que elas procurem seus médicos para receberem novas prescrições.
O resultado ruim vem depois da interrupção de dois testes clínicos sobre outros medicamentos que também tentavam reduzir o risco cardíaco aumentando o colesterol “bom”, o que levanta dúvidas sobre o futuro dessa estratégia para evitar infartos.
O Cordaptive é composto por niacina (vitamina B3) e uma substância chamada laropipranto.
A niacina ou ácido nicotínico reduz a produção de triglicérides (gorduras) e aumenta a fabricação do colesterol “bom”, que ajuda a “limpar” as artérias, recolhendo as gorduras que formam placas nos vasos.
VERMELHO
O problema é que essa substância é vasodilatadora e causa vermelhidão intensa e sensação de calor no rosto, como explica o cardiologista Raul Santos, diretor da unidade clínica de lípides do Incor (Instituto do Coração da Hospital das Clínicas de SP).
Para aumentar a tolerância dos pacientes à niacina, foi adicionada ao remédio a substância laropipranto, que combate esse efeito colateral. É essa combinação que vai sair do mercado. A niacina sozinha continua à venda.
De acordo com Santos, o remédio é recomendado a pessoas que não conseguem tomar as estatinas, drogas mais usadas no controle do colesterol, por sofrerem com alergias ou dores musculares.
Pacientes que já haviam infartado e tinham colesterol “bom” muito baixo e os que têm triglicérides e colesterol “ruim” muito altos também poderiam usar o medicamento associado às estatinas.
Em 2011, um artigo publicado no “New England Journal of Medicine” questionava se já não era hora de aposentar a niacina. Em sua forma isolada, ela está no mercado há 50 anos, mas, em estudos recentes, a droga tem mostrado resultados fracos.
Segundo o cardiologista, editor da diretriz brasileira para o tratamento do colesterol elevado familiar, apesar do resultado “decepcionante” do Cordaptive, a niacina sozinha ainda pode beneficiar alguns pacientes. No entanto, sua indicação fica cada vez mais restrita.
“Sabemos que o HDL baixo é um sinal de risco. Mas esse é mais um estudo mostrando que usar um remédio para aumentar o HDL não protege o paciente.”
Para Santos, por enquanto, o foco continua na redução do colesterol “ruim”.
Fonte: Folha de São Paulo / 15-01-2013