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Odeia seu cabelo? Culpe a alimentação de sua mãe.

    Provando mais do que nunca que você é o que come, cientistas norte-americanos disseram na sexta-feira que alteraram a cor dos pelos de ratos recém-nascidos simplesmente modificando a dieta das suas mães.

    O estudo mostra que nutrientes comuns podem influenciar quais genes são “ligados” ou “desligados” durante a gestação, o que ajuda a explicar algumas características de cada ser.

    Em artigo na edição de sexta-feira da revista Molecular and Cellular Biology, os cientistas da Universidade de Duke relataram como deram quatro suplementos alimentares a ratas grávidas – vitamina B12, ácido fólico, colina e betaína – e com isso mudaram a cor dos pelos de seus filhotes.

    As ratas que receberam os suplementos pariram ratinhos marrons, enquanto as outras deram a luz principalmente a crias amarelas. Os cientistas concluíram que os nutrientes estimularam o gene chamado Agouti, que afeta a cor dos pêlos.

    “Sabíamos há muito tempo que a nutrição material impacta profundamente a suscetibilidade a doenças na ninhada, mas nunca compreendemos a relação de causa-efeito”, disse Randy Jirtle, especialista em oncologia que dirigiu o estudo.

    “Pela primeira vez, mostramos precisamente como a suplementação alimentar para a mãe pode alterar definitivamente a expressão dos genes na sua prole sem alterar os genes em si”, afirmou ele em uma nota.

    HUMANOS

    Esse mecanismo não foi comprovado em humanos, mas os pesquisadores dizem que tudo indica que a nutrição pode afetar a expressão dos genes também nas pessoas. Vários estudos já demonstraram, por exemplo, que mulheres que se alimentam mal na gestação tendem a ter filhos com diabetes e doenças cardíacas.

    O estudo pode ajudar a explicar isso. O gene Agouti afeta não só a cor dos pêlos, mas também fatores metabólicos envolvidos no desenvolvimento de doenças cardíacas e diabetes.

    Ratos com os genes Agouti hiperativos tendem a ser obesos e suscetíveis a diabetes porque a proteína controlada por esses genes afeta um sinal cerebral ligado ao apetite.

    “A dieta, os suplementos nutricionais e outros compostos aparentemente inócuos podem alterar o desenvolvimento no útero de tal maneira que chega a modificar para toda a vida as características da prole, e potencialmente também as das futuras gerações”, disse o pesquisador Rob Waterland.

    A nutrição é provavelmente um dos “fatores ambientais” que decidem quais genes são “ligados” e quais permanecem em silêncio.

    Todo mundo herda duas cópias de cada gene — um do pai e um da mãe. Para a maioria das funções, só um desses genes se expressa, enquanto o outro fica “dormente”.

    Essa idéia, apresentada pela primeira vez no século 19 pelo pioneiro da genética Gregor Mendel, nas suas experiências com ervilhas, pode explicar por que um casal de olhos castanhos pode ter um filho de olhos azuis — o bebê estaria expressando genes de seus avós, que ficaram inertes durante uma geração.

    “Nosso estudo demonstra como são precoces os fatores que podem alterar a expressão de um gene sem provocar uma mutação no gene em si”, disse Waterland.

    15h31 – 01/08/2003

    Por Maggie Fox

    WASHINGTON (Reuters)