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Integração de profissionais facilita atendimento em UBS

    As utilização das diretrizes da Estratégia de Saúde da Família, que visa a reorientação do modelo assistencial com a integração de diferentes profissionais, é um fator facilitador para o atendimento a casos de violência doméstica envolvendo crianças e adolescentes pelas equipes das unidades básicas de saúde (UBS).

    A conclusão é da dissertação de mestrado A construção do cuidado: o atendimento às situações de violência doméstica por equipes de saúde da família, da psicóloga e cientista social Tatiana das Neves Fraga Moreira.

    A pesquisa foi desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

    O estudo contou com informações coletadas junto a profissionais de duas equipes de saúde da família e profissionais de outros serviços da rede intersetorial (Conselho Tutelar, Escola e Centro de Referência de Assistência Social) do município de Diadema (Grande São Paulo).

    Foram realizados 8 encontros com cada grupo, que incluíam a equipe de saúde da família, a psicóloga e a assistente social que integram o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

    Em entrevistas, as equipes reconstruíam coletivamente a história de 3 atendimentos: um caracterizado como difícil, outro típico e o último bem sucedido. “A partir da reconstrução da história desses atendimentos, foi possível entender a lógica e estratégias construídas pela equipe”, conta Tatiana.

    Uma das principais características identificadas em ambas as equipes foi a construção, a partir de reuniões conjuntas, de uma estratégia que envolva os vários profissionais disponíveis.

    Os métodos adotados integram, em síntese, dois tipos de conhecimento: técnico, correspondente a formação específica de cada profissional; e prático, sobre a comunidade, possível em função da relação construída com os moradores com intermédio dos agentes comunitários que os visitam regularmente.

    “Em todas as situações a equipe acionou outros serviços para lidar com o caso”, relata a pesquisadora, demonstrando o esforço de construir abordagens intersetoriais para as situações de violência.

    As equipes analisadas mostraram-se ambas preocupadas com a definição coletiva das ações e abordagens adotadas, privilegiando a visão multiprofissional dos casos. “A presença de psicólogo e assistente social no NASF é um diferencial, melhora qualitativamente o atendimento às situações de violência”, explica.

    Estratégias
    Os profissionais tem a visão bastante clara a respeito de sua responsabilidade sobre as famílias atendidas.
    No entanto, as estratégias adotadas pelas equipes alternavam-se entre um modelo de diálogo, com acompanhamento e vinculação à família, considerando suas necessidades, e outro prescritivo, inclusive com ações como internação compulsória.
    Tatiana Moreira explica que apesar de haver casos de diálogo, a discussão das ações com as famílias destas crianças e adolescentes parece não ser muito valorizado. “Porém quando houve uma postura de diálogo, o caso foi considerado mais bem sucedido”, diz.
    A psicóloga e cientista social explica que o diálogo com os familiares pode ser importante uma vez que permite que sejam adotadas ações compatíveis com a estrutura da família. “Os atendimentos prescritivos podem romper o laço com a família”, comenta.
    É neste sentido que se evidencia, como protagonista, o papel dos agentes comunitários, em função de sua interação com as famílias, que possibilita que a responsabilidade da equipe com a comunidade evolua para um cuidado que envolva a relação com o paciente e sua família.”O conhecimento sobre a rotina da comunidade ajuda a montar estratégias mais viáveis”, ela ressalta.
    Essa aproximação permite, por exemplo, que o paciente confie e procure a equipe em situações de agravamento do caso.
    As equipes identificaram outros tipos de violência doméstica nas famílias atendidas. No entanto, as suas ações priorizaram, em todos os casos, as situações de maus tratos contra crianças. “As diferentes violências domésticas não tem a mesma visibilidade para as equipes”, diz a pesquisadora.
    Parece haver menos sensibilidade da equipe a outras agressões, como a violência contra a mulher, que em geral apenas tornaram-se objeto principal de atenção dos grupos em situações bastante graves.
    Fonte: Agência USP de Notícias