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Estresse, tem como controlar?

    Para espantar o nervosismo que teima em ficar nas alturas, vale ter um gato, ir ao cinema ou usar uma flor na lapela.

    Mal do século 21

    Quem quiser vai encontrar inúmeras medidas para se livrar do estresse descontrolado, esse mal do século 21 — existe uma saída para cada bolso, gosto e personalidade.

    Mas, se você procura um roteiro rápido e cientificamente comprovado para domar essa fera, a alternativa pode vir de um pesquisador da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos.

    De ascendência chinesa, o professor de neuroinformática Yi-Yuan Tang buscou nas raízes da medicina tradicional do país de seus ancestrais a inspiração para um método que batizou de IBMT (Integrative Body-Mind Training, algo como treinamento de integração corpo e mente).

    Os estudos começaram em 1995 e vêm ganhando espaço em publicações científicas.

    Experimentos

    Tang e um colega, o psicólogo Michael Posner, demonstraram, em dois experimentos envolvendo 86 estudantes, que o IBMT consegue baixar o estresse em apenas cinco dias — um prazo incrivelmente curto. E bastaram 20 minutos de prática por sessão.

    Antes e depois do treinamento, os voluntários foram divididos em dois grupos.

    Um seguia a técnica e outro fazia um relaxamento corporal padrão.

    Todos os participantes tiveram de esquentar a cachola para resolver problemas de matemática — o intuito aqui era simplesmente acender o pavio da tensão.

    Além disso, os cientistas avaliaram seu estado de humor e as taxas de cortisol, aquele hormônio que é liberado em situações ameaçadoras.

    Resultados

    Ao final do estudo, a turma do IBMT apresentou os melhores resultados.

    Nas imagens por tomografia computadorizada, por exemplo, notou-se uma elevação do fluxo sanguíneo na área do cérebro associada ao controle cognitivo e emocional.

    Já nos testes fisiológicos, os batimentos cardíacos e a condutividade da pele diminuíram ao mesmo tempo que houve um aumento da amplitude da respiração abdominal. “Quanto maior o nível de ansiedade da pessoa, mais elétrica fica a pele e mais frias extremidades como as mãos”, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR, entidade internacional que estuda o estresse. “Isso porque o sangue se dirige para o centro do corpo, o coração e a musculatura das pernas.”

    Alívio estresse: Meditação

    O processo responsável por esse alívio generalizado pode ser resumido em uma palavra: meditação.

    E detalhado em quatro tópicos:

    • música introspectiva ao fundo,
    • relaxamento corporal,
    • controle da respiração e
    • visualização, ou seja, de olhos abertos, os voluntários são orientados a pensar em ambientes como um campo com grama verde numa manhã de sol.

    “A grande vantagem desse método é lançar mão de uma capacidade inata do corpo”, afirma Paulo de Tarso Lima, médico coordenador do Programa de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Afinal, essa prática, como a meditação zen e tantas outras, não usa nenhum recurso externo.”

    No fundo, trata-se de um treinamento para se esquivar dos golpes da vida com mais destreza e menos hematomas.

    E o melhor: todo mundo pode praticá-lo.

    Especialistas no gerenciamento do estresse nos auxiliaram a adaptar o IBMT para a realidade brasileira.

    A lição número 1 é o tempo: 20 minutos diários de dedicação à paz é lei.

    “Estima-se que o organismo demore dez minutos para se centrar e mais dez para estabilizar as mudanças fisiológicas”, justifica Ana Maria Rossi.

    Sem esse intervalo, o benefício não se prolonga.

    No dia a dia

    A psicóloga ensina que, em casa, vale apelar para a respiração abdominal, sem falar em técnicas de relaxamento corporal ou de visualização. “Alguém com dificuldade de concentração vai se beneficiar do relaxamento muscular progressivo. E quem não acha fácil criar imagens pode recorrer à respiração abdominal”, aconselha Ana.

    Em cinco dias dá para sentir a tensão diminuir. “O programa serve como um ritual de iniciação que merece ser incorporado como autocuidado no dia a dia”, compara Paulo de Tarso.

    A história é outra quando a ansiedade é deflagrada pelo nosso jeito de ser. “Aí a pessoa só irá melhorar se mudar mais radicalmente seu estilo de vida”, diz a psicóloga Lúcia Novaes, presidente da Associação Brasileira de Estresse.

    A meditação é de grande auxílio nesses casos, mas a adoção de novos hábitos, como uma dieta mais equilibrada, também é necessária.

    Reservar momentos para a reflexão é outra estratégia recomendada, sobretudo quando a gente se desespera diante de um desafio, achando que não vai conseguir superá-lo.

    “É preciso perguntar-se: quais são as evidências de que vou me dar mal em uma avaliação, por exemplo? Se é porque não estudei, então vou estudar ou desistir”, orienta Lúcia.

    “Porém, posso descobrir que não há motivo real para o temor.” Todas essas táticas auxiliam a encarar as agruras diárias com alma leve.

    Fonte: Revista Saúde