O planeta Terra é na verdade o planeta água
A Terra em que vivemos é mais de dois terços líquida. E com nosso corpo é igual. Somos 70% água, embora à medida que o tempo passe essa taxa se reduza.
É por causa disso que nos tornamos velhos. Um recém-nascido tem 75% do corpo composto de água. Em um idoso, essa taxa despenca para 60%. É essa queda que determina os sinais de envelhecimento, marcas da passagem do tempo quando nos tornamos flácidos e nossa pele perde a elasticidade.
Presidente da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte), o médico Dr. Jomar Souza avisa que esse processo é irreversível. Não adianta tomar mais água que o normal achando que podemos retardar o envelhecimento.
— Todo excedente de água que a pessoa tomar será eliminado pelos rins, através da urina. O organismo reterá somente o que precisar. Assim, se uma pessoa tomar 10 litros de água por dia, aproveitará em média dois e eliminará oito.
Responsável pela composição das células no organismo, a água é o principal elemento do sangue e também funciona como transporte de nutrientes e estruturas de defesa.
Uma pessoa desidratada ou que não ingere água o suficiente pode ter uma série de doenças, como cálculo renal, ressecamento da pele e até mesmo dificuldade nas funções intestinais. De acordo com o especialista, um copo de água pela manhã melhora o trânsito do intestino e passamos a reter menos substâncias tóxicas. Ainda segundo Jomar, é importante não esperar sentir sede para beber água.
— Quando sentimos sede, sinal de que um processo de desidratação já teve início. Por isso, devemos ter o hábito de beber água sempre que possível. E qual a melhor água para ingerirmos? Segundo ele, é a de torneira, depois de fervida e resfriada.
— A água potável que chega à nossa casa é a melhor que podemos consumir, desde que seja fervida e depois armazenada. É fundamental, no entanto, que o tanque ou caixa em que ela fica guardada antes de chegar à torneira de nossa casa seja limpo a cada seis meses ou um ano. Não importa o tipo de filtro que se tem em casa. Nenhum processo de filtragem, explica o médico, consegue anular a principal propriedade da água: a hidratação.
A principal questão, no entanto, não é em relação à água que se toma, mas sim com qual velocidade ela precisa ser absorvida. Enquanto a H2O pura, a uma temperatura de 5 a 10 graus, é absorvida pelo corpo de maneira mais rápida, com a água mineral esse processo é mais lento, devido aos elementos contidos nela, como sódio, magnésio, potássio.
— Até uma hora de exercício físico, o ideal é tomar água pura. Depois de uma hora suando, é melhor dar preferência a bebidas isotônicas que, apesar de terem a absorção mais lenta, trazem elementos que perdemos em grande quantidade, como açúcares. Já a água com gás pode causar desconforto gastrointestinal e dificultar a absorção da água, não sendo a melhor opção para hidratar.
Como os bons azeites, a água também possui uma gradação que mede sua acidez. No caso, é seu pH que pode ser importante para avaliar as condições de consumo e pode ser medido em aparelhos domésticos vendidos em lojas de equipamentos para psicinas.
De acordo com Vinícius Gomes, doutor em Química e professor da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), com passagem pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), a água tratada e oferecida para a população tem pH de 7,2 e 7,4, segundo ele, ligeiramente alcalina. E a água mais alcalina é melhor.
— É melhor em razão da condutividade elétrica. Esses sais estão em íons no organismo, eles serão transportados de acordo com uma faixa de pH. A faixa ideal para transportar algumas substâncias é entre 7 e 7,5. Com uma água mais alcalina, os nutrientes seriam melhor transportados.
Vinícius lembra que há vários elementos presentes na água. Há o flúor, que é usado no tratamento, há a quantidade de sódio.
— Com toda certeza a qualidade da água é importante para a qualidade de vida. Em outro caso, a água possui alguns metais essenciais, que a gente precisa. Mas, em alta quantidade os mesmos metais fazem mal à saúde.
Para o doutor e professor de Química da Unesp, Homero Marques não existe uma receita fechada.
— A água alcalina, por exemplo, é um veneno para uma pessoa que tenha propensão a formar cálculo renal. Mas segundo ele, de modo geral pode-se tranquilamente tomar água com pH entre 6 e 8.
— Normalmente trabalhamos na faixa de pH neutro por facilidade. Mas não tem qualquer problema com isso. Não existe uma água milagrosa que vai fazer você ficar saudável. Ela tem que ter qualidade, deve haver um tratamento desde bacteriologia, estar livre de microorganismos e passar por um controle do teor de substâncias presentes na água.
Enganação
O professor adverte a que a venda de filtros que afirmam ter poder de “magnetizar a água” é uma enganação:
— Magnetizador de água? A polícia tem que ir em cima do cara (que vende este tipo de filtro). Isso é impossível. Se alguém no mundo conseguir magnetizar a água, ganha um Nobel. Para Homero, o ideal é consumir no mínimo três litros de água por dia.
— Isso depende do ambiente em que a pessoa trabalha. Para quem trabalha sentado, fechado num ambiente com ar condicionado, tomar dois litros de água é quase impossível. Já um pedreiro, que trabalha o dia inteiro se movimentando, toma cinco litros tranquilamente. O organismo de cada pessoa é que determina.
Carlos Alberto Werutsky, médico nutrólogo da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) atesta que não existe uma água melhor que a outra.
— O enriquecimento dessa água pura é que pode diferenciar um produto de outro. E, segundo ele, refrigerantes, sucos, isotônicos e bebidas chamadas de esportivas não são os substitutos ideais da água.
— Não se pode indicar ou recomendar para a população que toma suco de fruta, que tome bebidas esportivas no lugar da água. Embora esse enriquecimento traga benefícios, o consumo não pode ser exclusivo. Por exemplo, se um maratonista que passar uma prova inteira tomando uma bebida esportiva ele vai ter riscos de perder em performance. Ele deve tomar 80% água e 20% de uma bebida esportiva durante o percurso.
Fonte: R7.com